quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Eu não sei como ele espirra...

...ou como é que ele coça a barba quando está crescendo. Eu não sei qual é o cheiro de suas têmporas, nem em quantos segundos ele vira um copo com água. Eu não sei se ele pára na metade para respirar. E, se pára na metade, se coloca o copo de volta na pia. E, se coloca o copo de volta na pia, se me comeria ali mesmo, antes do segundo gole, se por acaso eu me enfiasse entre ele e a pia, entre ele e o copo, entre ele e a sede, entre ele e a fome. São coisas que eu nunca soube a seu respeito. Mas, todos os dias, ele é comido pelo meu desejo. Não um desejo de joelhos, pulsos e cotovelos. Um desejo encefálico que se transfigura em fálico. É a sua inteligência que eu tenho vontade de chupar para dentro da minha. O que eu sei a seu respeito é só um pedaço de ombro, braço, rosto e pescoço assim, de relance. Mas não importa. É esse pedaço que eu desejo e estou indo encontrar no Rio de Janeiro."

Rita Apoena

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